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- Que livro é esse?
- Schopenhauer.
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- Gosta?
- Assim, assim.
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Leu o tratado dele
sobre o suicídio?
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- Não tem interesse para mim.
- Nem se o final for simples?
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Digamos que ia dormir,
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e havia uma paragem súbita.
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Não preferiria isso
a esta existência miserável?
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- Pergunto-me.
- A aproximação da morte assusta.
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Se o ser por nascer soubesse
que a vida se aproximava,
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sentir-se-ia igualmente apavorado.
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- Mas a vida é maravilhosa.
- O que tem de maravilhoso?
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Uma manhã de Primavera, uma noite
de Verão, música, arte, amor.
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- Amor?
- Existe, sabe?
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- Como é que sabe?
- Já estive apaixonada.
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- Uma atracção física por alguém?
- Foi mais do que isso.
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As mulheres
são capazes de algo mais.
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Não gosta de mulheres?
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Pelo contrário, gosto delas,
mas não as admiro.
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Porquê?
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As mulheres são da Terra, realistas,
dominadas pelos factos físicos.
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Que disparate.
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Quando uma mulher
trai um homem, despreza-o.
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Apesar da sua bondade, troca-o
por outro de inferior condição
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se esse alguém
for mais atraente, digamos.
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Conhece mal as mulheres.
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Ficaria admirada.
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Isso não é amor.
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- O que é o amor?
- Dar, sacrificar.
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O que uma mãe sente pelo filho.
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- Já amou assim?
- Já.
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- Quem?
- O meu marido.
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É casada?
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Fui. Morreu quando estava presa.
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Compreendo. Fale-me dele.
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É uma longa história.
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Ficou ferido na guerra,
era um inválido.
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Um inválido?