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Encontrei um dente no meu
apartamento. Estava num buraco.
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Um dente?
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Num buraco?
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Sim.
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Um buraco na parede.
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Embrulhado em algodão.
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E então? Não é preciso fazer
essa cara por causa de um dente.
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É um bocado estranho, não é?
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Nem por isso. Quando eu era miúda,
fazíamos muito isso.
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Sempre que um dos meus
dentes caía, eu escondia-o.
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A minha mãe dizia que se
transformaria numa moeda.
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Moeda.
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Meu Deus.
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- Stella, estava a perguntar-me...
- Sim?
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Um dente...
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Um dente é uma parte de nós,
não é?
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Como... um bocado da nossa
personalidade.
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Não sei o que queres dizer.
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Lembro-me de ler num jornal
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que um homem perdeu um braço num
acidente e quis que fosse enterrado.
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Ele quis o quê?
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- Quis enterrá-lo num cemitério.
- Devia ser maluco.
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As autoridades recusaram.
O braço foi cremado e acabou.
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Onde é que isso aconteceu?
Em França?
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Pergunto-me se se tivessem
recusado a dar-lhe as cinzas
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e, se assim foi, com que direito...
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Não tens nada de mais alegre
para falarmos?