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Nunca conheci ninguém que tivesse
tanto medo da mãe como tu.
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Não tenho nada.
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É por isso que entro à socapa
depois de estar tudo a dormir?
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Queres que diga à minha
mãe o que nós fazemos aqui?
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Que brincas com os jogos de vídeo
e eu adormeço insatisfeita?
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Diz. É melhor que
andarmos às escondidas.
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- Que é que queres? Ela não te grama.
- Nem sequer me conhece!
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Porque estás sempre
na casa-de-banho.
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O que é que fazes lá dentro?
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- Queres mesmo saber?
- Perguntei, ou não?
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'Tou naquela do gajo que se interessa.
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Choro.
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- Choras.
- Choro.
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Alguma razão específica?
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Penso nas pessoas que decidem
as coisas que afectam as nossas vidas.
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Os médicos que fazem progressos
na cura de doenças.
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O engenheiro que cria arranha-céus.
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- O tipo que faz o mapa do voo.
- O navegador.
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Penso que essa gente
anda aí, todos os dias,
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a deixar a sua marca,
a viver grandes vidas.
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E que se recusa a intimidar-se com a
as tremendas hipóteses de falhar.
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E que só se interessa
pela companhia
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que se ajuste às suas causas nobres.
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Ainda bem que não tenho de te dizer
o que penso na casa-de-banho.
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Penso nisso tudo e choro.
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Porque não tenho nada melhor
para fazer que foder contigo.
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Estás a acabar comigo?
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É porque eu não te
apresentei à minha mãe?
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É mesmo leviana.