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Està, mas... desculpe-me.
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Sabe que mais,
para padre é um bocado implacàvel.
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Sim, suponho que deixei de ser padre
e passei a agir como um cientista.
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E... acontece.
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Mas que tipo de cientista
é que você é padre, diga-me là?
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Não queira saber.
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Ah, sim, quero!
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Era um quìmico orgânico?
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Passeava-se com aqueles òculos
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envoltos em fita adesiva
e bolsos protegidos com redes?
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Por acaso, sim.
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Seja como for, um dia decidi que...
ia ser padre.
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Porquê?
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- As falhas.
- As falhas?
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- As falhas nas teorias.
- Que teorias?
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O mundo tem seis biliões de anos.
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Hà três biliões de anos que existe vida,
mas antes não havia nada.
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Nenhuma forma de vida. Sò um punhado
de elementos rodopiando.
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Foi então que um dia,
sem qualquer razão aparente,
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todos estes elementos se juntaram
numa harmonia perfeita
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e de repente passou a haver vida.
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Coisas vivas como lilases e...
e ouriços e...
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Cerveja e... queijada.
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Cerveja e queijada. Sabe que
os monges inventaram o àlcool?
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- Sim. Toda a gente sabe isso.
- Sabia disso?
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Sim.
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Bom, seja como for,
voltando à grande falha. De facto...
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De facto não hà qualquer explicação.
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E, imaginei que
houvesse algo mais do que...
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bem, mais importante do que
a quìmica orgânica,
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e imaginei que... fosse Deus.
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E que Deus era responsàvel
por toda esta... vida.
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- Eu de facto não consigo percebê-lo.
- Porque não?
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- Não compreendo um homem que...
- Que nunca fez amor com uma mulher?
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Bom, isto tal seja
uma grande surpresa para si, mas...
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Eu não fui sempre padre.
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- Não gostou, foi?
- O que é não gostar?
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- Não lhes sente a falta?
- Sim, claro que lhes sinto a falta.
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Quer dizer, sou humano.
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E debato-me com isso, mas fiz
uma escolha. Basicamente, troquei