:16:02
Sim. Damo-nos bem.
:16:04
Foi ele que me ensinou
os truques do ofício,
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quando era criança. Os golpes.
- Os golpes básicos.
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Depois, aconteceu algo,
não sei o que foi.
:16:17
Arrependeu-se de me ensinar.
Disse que estava errado,
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que não fizesse como ele,
que não desse cabo da minha vida,
:16:25
que fizesse outra coisa,
qualquer coisa.
:16:29
Fiz-lhe a vontade.
:16:31
- E funcionou?
- Não. Sou um fracasso.
:16:37
Que dizias, quando te perguntavam
o que querias ser?
:16:40
- Extremo-esquerdo.
- Eu queria ser cúmplice.
:16:46
Era o que ouvia em casa.
:16:49
- Que se faz com uma vocação destas?
- Vai-se para ministro?
:16:52
Agora que meu pai precisa de massa,
só a posso arranjar
:16:57
usando os truques
que ele me ensinou.
:17:00
Esforço-me para recordar cada frase,
cada movimento de mãos.
:17:04
Vendi o meu apartamento
para um negócio de importação
:17:07
que nem sequer começou.
Não deu em nada.
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As 70 mocas são uma cenoura
á frente do burro que sou eu,
:17:15
pois as 50 mocas que juntei
de nada servem.
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Que dizias?
:17:34
- Dá-me o troco? Tenho pressa.
- Qual troco, senhor?
:17:37
O da nota de 1 00 que lhe dei
há dez minutos.
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O senhor não me deu nada.
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- Despache-se. Tenho pressa.
- Mas o senhor não me pagou.
:17:45
O que foi?
Tem muitas mesas para atender?
:17:47
Quer que o ajude?
Gerente! Gerente!
:17:49
- O senhor não pagou. Não grite.
- Não me diga o que fazer.
:17:52
- Gerente!
- Há algum problema?
:17:54
O senhor disse que me pagou,
mas não pagou.
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- Está a chamar-me mentiroso?
- Não. Deve haver um equívoco.
:17:59
Não há equívoco. Tomei um café
e paguei com uma nota de cem.