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E esta história é única.
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Mas, de facto, é uma história
a seguir a outra história.
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O tempo dissolve-se, de resto, em partículas
que giram a enorme velocidade.
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Ou sou eu mais rápida ou é o tempo.
Nunca os dois simultâneamente.
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É um paradoxo tremendamente estranho.
Apesar de, tecnicamente,
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estar mais próxima do fim da minha vida
do que nunca estive,
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sinto-me como se nunca tivesse
tido tanto tempo pela frente.
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Quando era miúda, era um desespero,
uma necessidade de certezas,
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como se houvesse uma meta,
e eu tivesse que chegar lá.
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Percebo o queres dizer
porque me lembro de pensar,
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"Um dia, talvez quando tiver
para aí uns trinta e tal,
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tudo, de algum modo, se irá acomodar
e parar, terminar de vez."
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É como se esse patamar existisse
e estivesse à minha espera,
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e eu escalasse até ele,
e quando lá chegasse,
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todo o crescimento
e mudança parariam.
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Até a excitação. Mas, felizmente,
não foi o que aconteceu.
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Quando somos novos, não damos
a devida importância
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à nossa curiosidade sem limites.
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É o que há de especial
em sermos humanos.
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Sabes o que a Benedict Anderson
diz a propósito da identidade?
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Fala de um retrato de bebé.
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Olhas para a fotografia, uma imagem
a duas dimensões, e dizes, "Sou eu."
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Ligares o bebé nesta estranha
e pequena imagem...
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a ti própria, a respirar e a viver
no presente,
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obriga-te a construir uma história,
do tipo "Isto era eu com um ano,
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e, mais tarde, deixei crescer o cabelo,
e mudámo-nos para Riverdale,
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e agora aqui estou eu."
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É necessária uma história,
uma ficção...
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para te identificar com o bebé da fotografia
e para criar a tua identidade.
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E o mais engraçado é que, as nossas células se
renovam completamente de sete em sete anos.
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Já nos tornámos pessoas completamente
diferentes, por várias vezes, antes,
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e, no entanto, na essência,
continuamos sempre a ser nós.