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BARULHO E
SILÊNCIO
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A nossa crítica começa
como começam todas as críticas:
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com a dúvida.
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A dúvida converteu-se na nossa narrativa.
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Na busca de uma história nova,
a nossa.
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Agarrámo-nos a ela na suspeita de que
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não poderia ser contada
numa linguagem normal.
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O nosso passado aparecia
congelado na distância,
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e cada um dos nossos gestos
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era uma negação do velho mundo
e um passo em direcção ao novo.
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A nossa maneira de viver
criou uma nova situação,
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uma situação
de exuberância e amizade,
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uma microssociedade subversiva
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no seio duma sociedade
que a ignorava.
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A arte não era o objectivo,
mas a ocasião e o método...
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para localizarmos
o nosso ritmo específico...
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e as possibilidades escondidas
do nosso tempo.
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Tratava-se afinal da descoberta
de uma verdadeira comunicação,
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ou, pelo menos, da procura
dessa mesma comunicação.
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A aventura de a encontrarmos
e de a perdermos.
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Nós, os inquietos, os que não aceitam,
continuamos à procura,
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enchendo os silêncios com os nossos desejos,
os nossos medos e as nossas fantasias.
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Impelidos pelo facto de não importar
o quanto o mundo nos parecesse vazio,
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ou o seu estado de degradação
e de desgaste,
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sabíamos que tudo poderia
ser ainda possível.
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E, dadas as circunstâncias,
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um novo mundo parecia-nos
tão provável como um velho.
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PARA COMEÇAR DE NOVO...
DO COMEÇO
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Existem dois tipos de sofredores no mundo:
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os que sofrem por falta de uma vida...
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e os que sofrem pelo facto
de a viverem demais.
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Acho que me inseri sempre
na segunda categoria.