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- Olá, pá.
- Oi.
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Tu não estavas no carro-barco?
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Sabes, o tipo...
aquele tipo do chapéu.
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Deu-me boleia no carro,
ou barco, ou lá o que era...
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e tu ias atrás comigo.
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Não digo que não saibas
do que estás a falar,
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mas eu não sei
de que é que estás a falar.
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Ouve, vocês deixaram-me lá,
naquele sítio
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em que tu disseste
para o gajo me deixar.
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Eu saí e fui atropelado.
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Mas aí, acordei
- porque estava a sonhar -,
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para descobrir, mais tarde,
que continuava a sonhar,
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a sonhar que não voltava a acordar.
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São o que se chama "falsos despertares".
Costumava ter muitos.
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Mas eu estou assim ainda.
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Não consigo sair.
Parece que continua para sempre.
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Continuo a acordar, mas apenas
para mais outro sonho.
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E começo a ficar assustado,
como se andasse a falar com mortos.
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Aquela mulher na TV a dizer
que a morte é um tempo de sonho
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que existe fora da vida.
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Começo a pensar que estou morto.
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Vou contar-te um sonho
que tive uma vez.
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Sei bem que quando alguém diz isso,
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normalmente se segue uma seca.
E se calhar vais apanhá-la.
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Mas, o que é que se pode fazer?