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A última vez que vi os meus pais
tinha entre os 8 e os 9 anos.
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Oito anos, seis meses e três dias.
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Tinha quase a tua idade.
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Eles foram em digressão sem mim
pela primeira vez.
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Não queriam que eu faltasse á escola.
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Não lhes abri a porta do quarto
quando vieram despedir-se.
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E eles foram-se embora.
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Eu adormeci.
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Quando dei por mim,
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a minha ama acordou-me a meio da noite
e disse que o avião deles se despenhara.
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- Tiveste sorte.
- Sorte?
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De teres ficado louca.
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Quando se é louco,
não se tem saudades de ninguém.
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E se continuares louca,
é como se nunca os tivesses conhecido.
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Assim não tens de te sentir mal.
Tiveste sorte.
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Boa noite.
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Eu não estava louca.
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Estava confusa.
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Toda a gente vinha falar comigo,
eu não entendia uma palavra.
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Depois as vozes
tornaram-se um zumbido.
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E em breve eu nem sequer reconhecia
as caras deles.
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Eram como borrões.
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Depois as garras deles cresceram
e os olhos faiscaram.
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E eu soube que tinha de fugir.
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Por isso agarrei na mochila,
apanhei o comboio,
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olhei para o mapa e decidi que queria
viver em Coney lsland.
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Pensei que era uma ilha verdadeira,
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e que me ia esconder lá, como o Tom
Sawyer e o Huckleberry Finn.