Meu Tio Matou um Cara
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Mas tem aquele feijão que você
adora. Quer que eu esquente?

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- Quero. Se não for dar trabalho.
- Éder...

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Esse mês mudou a minha vida.
Eu sou outra pessoa.

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- Que bom, né?
- Vou recomeçar a minha vida do zero.

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Olha aqui, as coisas que eu
tinha quando entrei na cadeia.

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Minha correntinha, minha caneta,
meu chaveiro, meu isqueiro...

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- Sabia que parei de fumar na prisão?
- Que ótimo! Olha...

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Cara, quero voltar a estudar.
Quero casar, ter filhos.

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- Vai com calma, Éder.
- Não, é sério, cara.

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Eu sou o tipo de cara que, de certa
forma, eu quero ter filhos. Sabe?

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- Eu tô com quase 3O anos.
- Trinta e um, né, Duca?

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Pois então?
Trinta e um é quase trinta.

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Trinta e um é um moço.
O Rodrigo Santoro tem trinta.

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Pois então?
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Mas eu vou lhe contar um segredo.
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Sabe o que é que muda de verdade
a vida de um homem?

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Uma grande paixão.
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Uma grande mulher.
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Isso é que muda de verdade
a vida de um homem.

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- Você vai encontrar, tio.
- Como assim, vou encontrar?

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Eu já encontrei.
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- A Soraia é a mulher da minha vida.
- E como você foi solto?

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O advogado conseguiu
um habeas corpus.

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Pronto, quentinho: Arroz, feijão
e um peito de frango.

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Que fotos são essas, Éder?
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- Puta que me pariu!
- Que é isso, Éder?

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- Vagabunda, miserável!
- Calma, Éder.

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Desgraçada!
Essa vagabunda já tem outro!

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- E eu preso por causa dela!
- Como assim?

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Não fui eu quem matou o cara!
Foi ela!

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- Ela quem?
- A Soraia!

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Ela tava lá quando o cara chegou.
A gente brigou.

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Eu tirei a arma dele, dei para ela,
ela atirou e matou o cara.

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E agora tá aqui...
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Puta que o pariu.
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Ai, Laerte!
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Você tem que contar isso
pra polícia, Éder!

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Claro que não.
Primeiro, eu vou matar ela.

1:10:56
Calma, calma, calma.

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