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Uma rapariga muito tímida
e discreta.
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Apenas falava.
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Mas tinha um sorriso caloroso
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no qual eu via muitas coisas.
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Eu também era tímido.
Tínhamos isso em comum.
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Ela dava-me folhas a mais...
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por vezes, troco a mais.
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Eu aceitava, claro.
A fome não tem consciência.
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Depois de tocarem
a minha sinfonia no Albert Hall,
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voltei à papelaria.
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Ela não estava. Disseram-me
que tinha abalado há meses.
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Nunca mais a voltou a ver?
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Será que voltei?
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Sim, voltou.
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Eu sei.
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Sabe que me despediram
por causa dessas folhas?
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Vai me atirar isso à cara?
- Não, claro...
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Nessa altura, era muito jovem.
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Ainda é muito jovem.
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Não sei... Em breve serei
uma mulher velha e casada.
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Desejo-lhe muita felicidade.
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Obrigada.
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A empregada
é mesmo vagarosa!
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Antes da coreografia,
vou explicar o argumento:
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É uma arlequinada.
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A Terry, em Columbina,
está a morrer num sótão de Londres.
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O seu amor, o Arlequim
e os palhaços estão ao lado dela.
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Ela pede para a levarem à janela,
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quer ver os telhados da cidade
uma última vez.
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Os palhaços choram. Ela sorri.
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Não trazem trajes tristes,
mas cómicos.
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Ela quer vê-los actuar,
fazer truques.
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Eis a parte da comédia.
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Enquanto ela morre.
- Sim.
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Onde é que eu ia?
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Durante a actuação deles,
ela delira.
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Espíritos de Columbina
dançam à sua frente.
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Aí, ela morre.
Fim do primeiro acto.