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Ela fala-me de uma coisa qualquer.
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Subitamente as palavras
desvanecem-se em silêncio.
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Os olhos ficam enevoados e vazios.
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Ela é outra pessoa, afastada de mim,
alguém que não conheço.
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Chamo-a, ela nem me ouve.
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Depois, com um longo suspiro, volta a si.
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Olha-me com um olhar luminoso.
Nem se apercebe que esteve ausente.
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Não me sabe dizer onde nem quando.
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Com que frequência sucede isso?
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Cada vez mais,
nestas duas últimas semanas.
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E ela vagueia.
Deus sabe por onde ela vagueia.
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Um dia segui-a...
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vi-a sair do apartamento,
alguém que eu não conhecia.
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Até a maneira de andar era diferente.
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Meteu-se no carro e...
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foi até Golden Gate Park, oito quilómetros.
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Sentou-se junto ao lago...
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com o olhar fixo
nos pilares da outra margem.
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Sabes quais são, os Portais do Passado.
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Ficou ali imóvel durante muito tempo.
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Tive de ir embora,
de voltar para o escritório.
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Quando cheguei a casa,
perguntei-lhe o que fizera durante o dia.
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Disse-me que fora ao Golden Gate Park...
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e que se sentara junto ao lago, foi tudo.
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E então?
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O conta-quilómetros do seu carro
mostrava que fizera 150 quilómetros.
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Onde é que ela foi?
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Tenho de saber onde ela vai e o que faz...
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antes de me meter com médicos.
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-Já falaste nisto aos médicos?
-Sim, mas cuidadosamente.
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Quero saber mais antes de a submeter
a esse tipo de cuidados.
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Vou indicar-te uns detectives privados
para a seguirem.
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-Eles são de confiança, bons rapazes.
-Quero que sejas tu.
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Ouve, isto não é o meu género.
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Preciso de um amigo,
alguém em quem possa confiar.
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Estou a ficar desesperado.
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É suposto eu estar reformado.
Não me quero envolver em nada disto.
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Vamos a uma estreia na ópera esta noite.