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Corre, filho, corre.
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É um milagre uma criança
sobreviver aqui.
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A maioria das mulheres que têm carta
de trabalho são criadas,
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só podem ver os filhos
umas duas horas ao domingo.
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Isto está cheio de bêbedos, de ladrões,
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gente tão desesperada que é capaz
de espancar um miúdo por cinco randes.
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E esse miúdo era você, há uns anos?
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Era. Talvez ainda mais assustado.
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Mas se corrermos bem,
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se sobrevivemos, crescemos nestas ruas,
nestas casas.
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Os pais bem tentam, mas no fim
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só temos a educação que
os brancos nos dão.
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Depois vamos à cidade,
trabalhar ou fazer compras,
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e vemos as ruas deles,
os carros deles, as casas deles,
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e começamos a sentir que há algo
de errado connosco,
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com a nossa humanidade.
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Algo que tem a ver com ser negro.
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Por mais burra ou esperta que seja
uma criança branca nasce nesse mundo.
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Mas nós, crianças negras?
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Espertas ou burras, nascemos aqui.
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Espertas ou burras, aqui morrem.