Cyrano de Bergerac
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:13:01
Primo: é um actor deplorável
que berra.

:13:04
E que expele com uns “ahn”!
de aguadeiro

:13:06
os versos que é necessário
deixar voar!

:13:09
Secundo: é segredo meu...
:13:12
Mas vós privais-nos sem escrúpulos
de assistir à “Clorise”!

:13:15
- E usando a força!
- Sua velha mula!

:13:18
Os versos do velho Baro
valem menos que nada.

:13:21
Interrompo sem remorsos.
:13:23
Meu Deus! O nosso Baro!
:13:26
E o dinheiro que vai ter
de nos ser devolvido!

:13:29
Bellerose, acabou de dizer
a única coisa inteligente.

:13:32
No manto de Tespis
não abro buracos.

:13:34
Agarrai esta bolsa no ar,
e calai-vos!

:13:51
Atacar Montfleury! Mas é louco!
Que escândalo!

:13:54
Ele, que é protegido
pelo Duque de Candale!

:13:56
- Tendes um patrão? Um protector?
- Não. Não.

:13:59
Nem um grande senhor que
vos defenda com o seu nome?

:14:01
Não, já o disse duas vezes!
Será necessário repetir a terceira?

:14:04
Não, não tenho um protector...
mas uma protectora!

:14:07
Bom. Agora, toca a andar!
:14:08
- Mas...
- Toca a andar!

:14:10
Diga-me por que está a olhar
para o meu nariz.

:14:12
- Eu? Enganai-vos...
- Que tem de extraordinário?

:14:14
Achais vós que ele é mole
e pendente, como uma tromba...

:14:16
Mas eu nem tinha ousado
pôr os olhos nele!

:14:17
- E porquê, dizei-me, não o olhar?
- Eu tinha...

:14:19
- Ele repugna-vos, então?
- Senhor...

:14:21
- Parece-vos doentia, a sua cor?
- Senhor!

:14:23
- Obscena, a sua forma?
- Mas de nenhum modo!

:14:25
Porquê, então, pôr esse ar
de desprezo?

:14:27
Será que o senhor
o acha demasiado grande?

:14:29
Acho-o pequeno, muito pequeno,
minúsculo!

:14:32
Como? Ousa acusar-me
de uma coisa tão ridícula?

:14:36
Pequeno, o meu nariz?
Ora essa!

:14:38
- Deus do Céu!
- Enorme, o meu nariz!

:14:43
Vil idiota, estúpido,
cabeça chata!

:14:46
Sabei que me orgulho
de semelhante apêndice,

:14:49
visto que um grande nariz
é o sinal de um homem afável,

:14:51
bom, cortês, espiritual, liberal,
corajoso, tal como eu sou,

:14:56
e tal como jamais chegareis a ser,
deplorável patife!


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