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- Tenho medo que não fale comigo.
- Como é que sabe?
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Não sei.
Apenas tenho medo.
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Não quero ofendê-lo, mas não é
um pouco velho para ter medo?
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Pode ser-se velho para muitas coisas,
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mas nunca para ter medo.
- É verdade.
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Eu sempre tive medo da nossa cave.
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É escura, tem lá coisas esquisitas
e um cheiro estranho.
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Esse tipo de coisas.
Há anos que me incomoda.
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As caves são assim.
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Depois obriguei-me a ir lá abaixo
e descobri que não é assim tão má.
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Andava preocupado, mas depois de se
acender a luz, não é nada de especial.
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- O que queres dizer com isso?
- O que quero dizer é que devia ligar ao seu filho.
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- E se ele não falar comigo?
- Pelo menos, fica a saber.
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Depois pode deixar de se preocupar com isso.
Depois já não tem de ter mais medo.
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Por muito zangado que estivesse, falava
com o meu pai. Especialmente no Natal.
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Não sei.
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Tente.
Pelo menos, pela sua neta.
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De certeza que tem saudades
suas... e dos presentes.
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Costumo mandar-lhe um cheque.
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Quem me dera que os meus avós fizessem isso.
Mandam sempre roupa.
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O ano passado recebi uma
camisola com o Poupas.
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- Que bom.
- Não para um miúdo que ande na segunda classe.
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Podemos apanhar por usar uma coisa dessas.
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Sim. Tenho um amigo que apanhou
por ter um pijama com dinossauros.
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É melhor voltares para casa.
E pensa no que te disse.
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- Está bem?
- Está.
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Foi bom ter falado contigo.
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E eu consigo.
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- E o senhor?
- Eu?
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- Sim. O senhor e o seu filho.
- Veremos o que acontece.
1:09:55
Feliz Natal.
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Feliz Natal.