:28:03
As falas dela são punhais,
e cada palavra fere.
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Se tivesse um hálito pestilento
como os ditos que profere,
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infectaria até a estrela polar.
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Na verdade, a discórdia,
o terror e o alvoroço seguem-na.
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Ela vem aí.
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Ordenais-me que vá
até ao fim do mundo?
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Irei aos antípodas
com a mais insignificante missão
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que me atribuirdes.
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Trarei um pêlo
da barba do grande Cão,
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levarei uma embaixada
junto dos pigmeus,
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para não ter de trocar
três palavras com esta harpia!
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Não tendes nada para mim?
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Nada, a não ser o desejo
da vossa companhia.
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Eis um prato de que não gosto.
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Não suporto a senhora Língua!
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Senhora, perdestes o coração
do Signior Benedick.
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É verdade, meu senhor.
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Ele emprestou-mo por algum tempo,
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e eu devolvi-o com juros.
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Um coração duplo
em troca de um simples.
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Mas já antes disso ele o ganhara
com dados viciados.
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Vossa Alteza tem razão
em dizer que o perdi.
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Vós o derrubastes, senhora.
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Não quisera
que ele me fizesse o mesmo,
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pois recearia
tornar-me mãe de néscios.
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Trouxe o conde Claudio,
que me mandastes procurar.
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- Que tristeza é essa?
- Não é tristeza, meu senhor.
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- Estás doente?
- Também não.
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O conde não está triste, nem doente,
nem alegre, nem de saúde,
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mas polido como uma laranja verde,
com laivos dessa cor ciumenta.
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Penso ser verdade o que dizeis,
:29:59
embora ele não tenha razão para tal.