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Que raio de monstro desumano és tu?!
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- Acho melhor ires-te embora.
- E eu acho melhor ficar!
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Devias agradecer-me,
estamos nisto juntos.
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Não estamos nada,
eu não a quis morta.
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Ouviste bem? Não estamos
os dois juntos em nada.
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- Preferia-la á peça?
- Pois claro que preferia!
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Achas bem uma fulana qualquer
estragar uma peça tão boa?
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Desejei tanto como tu
o sucesso da peça.
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- Não tanto.
- Não é razão para matar!
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Quem disse? O meu Pai
passava a vida a ouvir ópera,
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mas se o cantor era mau...
- O quê, matava-o?!
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Uma vez, em Palermo.
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Também sou artista. Não tão
grande como tu, mas sou artista.
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Mas primeiro sou um ser humano
decente e com moral!
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E andas enrolado com a Helen Sinclair?
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Que tem isso a ver?!
E como sabes?
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Toda a gente sabe,
tirando a tua amiga.
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Quem pensas que enganas?
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Posso não ser perfeito mas tu
és um assassino! Um animal!
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Um homicida! O teu lugar
é na cadeira eléctrica!
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Ouve-me, mas ouve bem.
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Ninguém Há-de estragar
o meu trabalho, ouviste?
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Ninguém.
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Apaixonei-me pela Helen Sinclair.
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E no outro dia menti-te,
como calculo que saibas.
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Mas quero que saibas que não
desejei isto, só que aconteceu.
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Não me surpreende nada,
ela é extraordinária.
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Tu também és,
eu é que só faço asneiras.
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- Também tenho uma confissão...
- Já sei, estavas farta de saber,
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mas nunca falarias disso
enquanto não acabasse a peça.
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Tenho dormido com o Sheldon Flender.
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- Temos um caso.
- Disseste Sheldon Flender?
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Disse, há muito tempo
que está apaixonado por mim.
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Conheces a teoria dele
que a arte é relacional,
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dependendo tanto do artista
como do público?
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- Pois, acha o mesmo do sexo.
- Do sexo?
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Sim, que entre duas pessoas certas
pode ser uma forma artística.
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Estás a dizer-me que tu e o Flender
elevaram o sexo a forma de arte?
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Não só o sexo em si,
a marmelada também.
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Ele andava atrás de mim
há imenso tempo,
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tu nunca mais te decidias a cassar...