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	DELÍRIO EM LAS VEGAS
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	Aquele que faz de si uma besta
livra-se da dor de ser um homem.
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	Estávamos algures perto
de Barstow, na orla do deserto,
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	quando as drogas começaram
a fazer efeito.
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	Lembro-me de dizer algo como:
Sinto-me um bocado estonteado.
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	Se calhar,
devias ser tu a conduzir.
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	De repente, à nossa volta
houve um estrondo terrível
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	e o céu encheu-se
de morcegos gigantescos
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	investindo aos guinchos
e fazendo voos rasantes ao carro.
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	Uma voz gritava: Jesus Santíssimo,
que raio de animais são estes?.
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	-Porcos de merda!
-Disseste alguma coisa?
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	Esquece.
É a tua vez de conduzires.
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	Não vale a pena referir
estes morcegos, pensei.
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	O desgraçado já os vai ver
daqui a pouco.
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	Porcos de merda! A voarem!
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	Merda. Ora vejamos...
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	Tínhamos duas saquetas de erva,
75 cápsulas de mescalina,
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	Cinco folhas de um LSD
porreiraço,
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	um saleiro meio cheio
de coca,
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	uma colecção de pílulas coloridas:
speeds, calmantes e por aí fora.
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	Uma garrafa de tequila, outra
de rum e uma grade de cerveja,
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	meio litro de éter puro
e duas dúzias de afrodisíacos.
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	Não que tudo aquilo fosse
preciso para a viagem,
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	mas quando se entra numa onda
de coleccionar drogas,
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	a tendência é para levar a coisa
até ao limite.
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	A única coisa que realmente
me preocupava era o éter.
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	Não se encontra no mundo
impotência,
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	irresponsabilidade
e depravação
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	iguais às de um homem com
uma grandessíssima moca de éter.
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	E eu sabia que não tardava
nada íamo-nos lá enfiar.