:15:10
"Uma vez a minha Mãe bateu-me.
:15:12
"E praguejou e gritou,
'Maldito, má rás!'
:15:16
"E gritou para o céu
'Quero sair daqui!',
:15:20
"mas não percebi se era
realmente o que queria.
:15:27
"Mas agora,
:15:28
"olhando-me lá do alto,
:15:30
'parecia-me um enorme
tronco de ârvore.
:15:33
"Ese não doesse tanto,
:15:36
"eu punha-me de joelhos
e pedia-lhe que me batesse mais.
:15:40
"Ainda com mais força.
:15:42
"Depois tornou-se linda,
:15:45
"como lhe ficava bem
a saia feita de sarapilheira
:15:48
"e a blusa, roubada à irmã.
:15:51
"Queria levantar-me e pedir perdão,
:15:54
"queria dizer,
'Mamã, estás tão bonita hoje,
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"pareces uma daquelas mulheres
dos cartões de Boas-Festas'.
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"Mas não disse nada
por causa do nó na minha garganta.
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Muito bonito, mesmo...
Como te chamas?
:16:11
Reinaldo Arenas.
- E quem escreveu isso?
:16:15
Fui eu, é do meu conto.
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E que nome tem esse conto?"
- Cantando do Poco."
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Andas a estudar?
- Ando, contabilidade agrícola.
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Diz cá, gostavas de trabalhar
na Biblioteca Nacional?
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O ordenado não é grande coisa,
:16:37
mas prometo que terás todos
os livros que consigas ler.
:16:41
Claro, ia gostar muito.
Muito obrigado, obrigado.