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A razão pela qual recusei o existencialismo...
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apenas como mais uma moda francesa
ou uma curiosidade histórica...
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é porque penso que ainda tem muito
para nos dar no novo século.
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Receio que estejamos a perder o
bom que é viver apaixonadamente,
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o sentido de sermos responsáveis
pelo que somos,
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a capacidade para fazermos algo de nós
próprios, e de estarmos de bem com a vida.
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O existencialismo é visto, frequentemente,
como uma filosofia do desespero.
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Mas penso que, na verdade,
é exactamente o oposto.
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Sartre, numa entrevista, disse que nunca
tinha tido um dia de desespero a sério na vida.
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Aquilo com que ficamos
da leitura destes tipos...
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não é tanto um sentido de angústia
a propósito da vida, mas...
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muito mais, uma certa exuberância
de nos sentirmos acima dela.
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É como se a vida
fosse uma criação nossa.
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Li os pós-modernistas com algum
interesse, talvez até, admiração.
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Mas ao lê-los fiquei sempre
com a sensação incómoda...
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que algo de muito importante
lhes estava a escapar.
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Quando se fala da pessoa
como produto social...
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ou como confluência de forças...
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ou fragmentada
ou marginalizada,
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o que se faz é criar
um enorme mundo de desculpas.
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E quando Sartre fala
da responsabilidade,
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não se está a referir
a nenhuma abstracção.
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Não fala do "eu" ou da "alma" de que
os teólogos costumam falar.
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É algo de muito concreto.
Como eu e tu aqui a falarmos.
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A tomar decisões. A fazer coisas
e a sofrer as consequências disso.
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Pode até ser que existam mesmo
seis biliões de pessoas no mundo.
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Apesar disso, o que tu fizeres
faz a diferença.
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Desde logo, em termos materiais.
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Faz a diferença, em relação aos outros,
e constitui um exemplo.