1:25:02
só restávamos uns cinquenta,
todos criancas.
1:25:05
De repente, pararam de vir.
1:25:08
Depois, um dia,
1:25:11
apareceu um homem;
não um dos guardas.
1:25:14
Tinha vestido um fato
cor de areia, impecável,
1:25:19
e tapava o nariz
com um lenço preto.
1:25:23
Não cheirávamos muito bem...
1:25:25
E um por um
pegou nos nossos braços
1:25:27
e anotou os números
num bloco-notas.
1:25:31
lríamos ser chamados
e reunidos aos nossos pais.
1:25:37
Depois saiu e nunca mais voltou.
1:25:41
Mas os guardas sim;
1:25:43
reuniram-nos, gritaram um
número e olhei o meu braco...
1:25:47
Não era o meu
mas um dos dos outros.
1:25:49
Que ao sair pela porta
1:25:52
se virou para trás
e olhou para nós,
1:25:55
encantado por ter ganho.
1:25:58
E desapareceu.
1:26:00
E todos os dias,
mais outro número.
1:26:03
Ou dois. Ou nenhum.
1:26:07
Às vezes ficavam só parados
a olhar-nos e depois iam-se.
1:26:12
No fim, só restámos
o Daniel e eu.
1:26:16
Quatro dias, sozinhos.
1:26:18
E fartámo-nos de falar
um com o outro.
1:26:21
O Daniel sabia coisas...
1:26:23
Costumava ajudar o pai,
na sua loja de relojoeiro.
1:26:27
Sabes que se olhares fixa-
mente o ponteiro dos minutos
1:26:32
consegues vê-lo mexer?
1:26:36
Essa fotografia era
da Helena, a irmã dele.
1:26:40
O Daniel sabia que não
seriam os nossos pais
1:26:43
quem nos esperaria lá fora.
1:26:46
E num dia a porta abriu-se,
peguei na mão do meu amigo...
1:26:52
Fechei os olhos e fiz forca
para que não fosse o meu número.
1:26:57
E quando o Daniel me largou
não os consegui abrir,