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E todos os dias,
mais outro número.
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Ou dois. Ou nenhum.
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Às vezes ficavam só parados
a olhar-nos e depois iam-se.
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No fim, só restámos
o Daniel e eu.
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Quatro dias, sozinhos.
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E fartámo-nos de falar
um com o outro.
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O Daniel sabia coisas...
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Costumava ajudar o pai,
na sua loja de relojoeiro.
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Sabes que se olhares fixa-
mente o ponteiro dos minutos
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consegues vê-lo mexer?
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Essa fotografia era
da Helena, a irmã dele.
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O Daniel sabia que não
seriam os nossos pais
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quem nos esperaria lá fora.
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E num dia a porta abriu-se,
peguei na mão do meu amigo...
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Fechei os olhos e fiz forca
para que não fosse o meu número.
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E quando o Daniel me largou
não os consegui abrir,
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não quis olhar para ele,
olhos nos olhos.
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E ele disse-me, "É tua."
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E afastou-se.
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Deixando a fotografia
na minha mão.
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Da vez seguinte
que a porta se abriu,
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as fardas eram outras.
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Se estás pronto, acho estar
na hora de jogarmos?