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Essa rua é por aqui? Podemos...
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É muito longe.
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Escrevias num diário,
quando eras garoto?
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De vez em quando.
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É curioso, há dias li
um dos meus diários de '83.
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O que me surpreendeu é que eu lidava
com a vida da mesma maneira que agora.
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Era muito mais esperançada
e ingénua,
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mas a atitude e a maneira de sentir
as coisas é exactamente a mesma.
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Isso fez-me ver que
eu não tinha mudado nada.
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Eu acho que ninguém muda.
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As pessoas não querem admitir,
mas nós temos desígnios próprios
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e nada que nos acontece
altera a nossa atitude.
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- Acreditas nisso?
- Acho que sim.
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Li um estudo onde acompanham
pessoas que ganharam a lotaria
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e pessoas que ficaram paraplégicas.
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Pensarás que uma coisa te levará
à euforia e a outra ao suicídio.
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Mas o estudo prova que,
passados seis meses,
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quando as pessoas estavam
acostumadas à sua nova situação,
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eram as mesmas.
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Se eram basicamente
uma pessoa optimista e jovial,
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agora são uma pessoa optimista e jovial
numa cadeira de rodas.
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Se eram um cretino mesquinho
e infeliz,
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são um cretino mesquinho e infeliz
com um Cadillac, uma casa e um barco.
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Queres dizer que estarei deprimida ainda
que me aconteçam coisas maravilhosas?
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- Absolutamente.
- Óptimo.
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Estás deprimida, agora?
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Não, não estou deprimida.
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Mas às vezes receio chegar
ao fim da vida
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- sentindo que não fiz o que queria.
- Que queres fazer?
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Quero pintar mais, quero tocar
a minha guitarra, todos os dias.
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Quero aprender chinês,
quero escrever mais canções.
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Há tantas coisas que quero fazer,
e acabo por pouco fazer.
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Deixa-me fazer-te uma pergunta.
Acreditas em fantasmas ou espíritos?
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- E na reencarnacão?
- Absolutamente nada.
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- Em Deus?
- Não.
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Soa horrivelmente.
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Mas não quero ser daquelas
que não acreditam