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Quanto tempo ainda temos?
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Uma vida inteira, Maria.
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Quer dizer, até ao amanhecer.
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Cinco, seis horas.
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A Pilar disse-me que
o tempo não é importante.
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Se calhar ela tem razão.
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Três dias e três noites,
agora são tudo.
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Mais longos que os meses na prisão.
Mais longos do que os anos que vivi.
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Ela disse-me outra coisa
quando saí da gruta:
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Nós temos que aproveitar
o tempo que nos resta.
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Ela disse...
- O quê?
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O que é que ela disse?
- Vamos morrer todos amanhã.
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E sabes isso tão bem como ela.
- Ela é doida!
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Isso é só mais uma previsão cigana.
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Não acreditas?
- Claro que não.
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Ela tinha uma razão para me contar.
Eu tenho de te contar o que se
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passou comigo
quando mataram os meus pais.
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Já me contaste!
- Não.
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Ainda não contei o que se passou
desde as montanhas
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até ao barbeiro.
- Não quero ouvir.
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Um homem disse para o outro:
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"Esta é a filha
do Presidente da Câmara".
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O outro disse: "Ela primeiro."
Levaram-me para o barbeiro,
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sentaram-me numa cadeira
e amarraram-me.
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Olhei-me no espelho,
mas só consegui ver os meus pais