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Que se lixe, sou cego. Estás a ouvir?
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Um estupor dum bêbado atropelou-me,
fui bater num extintor...
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e fiquei cego para toda a vida.
Ele apanhou seis meses de pena suspensa.
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Mas eu quero que se lixe.
Não me vou preocupar com ele.
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Que se lixe.
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Tu praguejas muito.
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- Que se lixe, tens razão.
- Que se lixe.
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Se algo te irrita, que se lixe.
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A tua mulher deixou-te? Lixa-la.
O patrão despediu-te? Lixa-lo.
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- Que se lixe, lixem-se.
- Que se lixe, tens toda a razão.
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É uma benção poder fazer isso.
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Eu não consigo. És um tipo com sorte.
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Que se lixe, muda.
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É fácil para ti dizer isso.
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Não é fácil para mim. Sou cego.
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Sim, mas quando caminhas pela rua,
as pessoas tocam-te.
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Quando se é surdo, não te tocam,
porque podem apanhar alguma doença.
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- Como se fosses um leproso.
- Estamos a ser um pouco amargos, não é?
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Só quero aceitar as minhas limitações.
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Não acho que correr
atrás de assassinos cruéis,
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seja uma tarefa para a qual
nos adequemos particularmente.
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Tretas! Tu és um actor.
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Se não disseres que és surdo e eu cego,
podemos fazer tudo.
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- Garanto-te.
- Garantes?
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Isso mesmo.
E se não me ajudares, faço-o sozinho.
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Não preciso de ti nem de ninguém!
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Tudo bem. Agora já percebi.
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Excusez-moi, Monsieur Cagão.
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Vou mas é tomar um belo banho quente
e um cocktail antes do jantar.
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Espera. Temos de nos acalmar um bocado.
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Passa um bom dia.
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Acho que tu e eu sabemos muito...
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Como raio esperas
que eu saia desta merda?
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Isto está frio!
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Volta! Temos de enterrar o carro!