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Mas os meus pais...
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näo tardaram a mudar de ideias
quanto ao meu trabalho.
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Para eles, devia ser um trabalho
a meio tempo. Mas para mim...
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era mesmo a tempo inteiro.
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Era tudo o que queria fazer.
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As pessoas como o meu pai
näo entendiam, mas eu fazia parte de algo.
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Estava integrado.
Tratavam-me como adulto.
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Diz-lhe 519.
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Todos os dias aprendia a facturar.
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Um dólar aqui, um dólar ali.
Vivia num mundo de sonho.
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As aulas correram bem?
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O meu pai estava sempre chateado.
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Porque ganhava uma miséria,
porque o meu irmäo Michael...
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era deficiente.
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Porque vivíamos sete pessoas
numa casa minüscula.
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Explica-me isto.
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É uma carta da escola.
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Diz que näo apareces hä meses.
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Hä meses!
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És um vadio!
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Queres ser um vadio?
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Depois, ficava chateado sobretudo
por eu frequentar a praça de täxis.
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Sabia o que se passava lä.
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De vez em quando, desancava-me.
Mas eu jä näo me importava.
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A meu ver...
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todos somos desancados äs vezes.
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Näo posso fazer mais entregas.
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O quê? Vais estragar tudo.
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O meu pai mata-me. Olha.
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Anda.
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-É aquele ali?
-Näo.
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-E aquele?
-Näo.
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-É aquele gajo.
-Apanhem-no.
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Desculpe.
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-Merdoso.
-Anda cä, meu merdas.
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-Conheces o puto?
-Sim.
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-Sabes onde mora?
-Sim.
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-Entregas o correio dele?
-Sim.
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Daqui para a frente, qualquer carta que
venha da escola, entregas aqui.