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- Deve ter a tua idade. Conhece-la?
- Não.
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- Vives ao pé de mim, não vives?
- Vivo.
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Podes cumprimentar-me quando me vires.
Não precisas de ter medo.
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Dizem-se muitas coisas sobre mim, mas
nenhuma delas é verdade, está bem?
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- Portaste-te bem este ano?
- Acho que sim.
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- Juras?
- Não.
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Bem me quis parecer. Este é o sítio certo para se
estar quando nos sentimos mal com nós mesmos.
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- É?
- Acho que sim.
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- Sente-se mal consigo mesmo?
- Não.
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Ultimamente, tenho sido um chato.
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Disse coisas que não devia.
Não me portei muito bem este ano.
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Pois...
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Estou aborrecido com isso, porque
gosto mesmo muito da minha família.
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Apesar de às vezes dizer que não.
Às vezes, até penso que não gosto deles.
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- Percebe?
- Acho que sim.
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O que sentimos pela nossa família
é uma coisa complicada.
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Especialmente com um irmão mais velho.
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No fundo, havemos de gostar sempre deles.
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Mas esquecemo-nos disso,
magoamo-los e eles podem magoar-nos.
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E isso não acontece só porque és novo.
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- Queres saber porque estou aqui?
- Claro.
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Vim ver a minha neta cantar.
Não posso vir ouvi-la hoje à noite.
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- Tem planos?
- Não. Não sou bem-vindo.
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- Na igreja?
- É-se sempre bem-vindo na igreja.
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O meu filho é que não me quer ver.
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Há uns anos, antes de a tua família
se ter mudado para este bairro,
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tive uma discussão com o meu filho.
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- Que idade tem ele?
- Já é crescido.
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Exaltámo-nos... e eu disse
que não o queria voltar a ver.
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Ele disse o mesmo.
Desde essa altura que não nos falamos.
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Se tem saudades dele, porque não lhe telefona?