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é suposto as pérolas pretas
serem mesmo pretas.
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Vá lá, não sejas assim...
Bem sabes que sou doido por ti.
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Se és assim tão doido por mim
tira-me deste corpo de baile.
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Vim a Nova Iorque para ser actriz,
é para isso que tenho talento.
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E hás-de ser, uma grande actriz.
Promessa é promessa.
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Vá, acaba de te vestir,
vou levar-te a Harlem.
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Ao Cotton Club?
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Lêem a minha peça e adoram-na,
mas sentem medo dela.
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- Isso é irrelevante.
- Não é nada.
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O que tento dizer
é que nenhum grande artista
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foi apreciado em vida.
- Nem um?
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Não.
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Olha o Van Gogh,
o Edgar Allan Poe.
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O Poe morreu pobre e gelado,
com o gato enrolado nos pés.
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David, não desistas, talvez
ela seja encenada postumamente.
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Nunca encenaram nenhuma
das minhas peças
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e tenho escrito uma por ano,
nos últimos vinte anos.
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Isso é por seres um génio.
A prova é que tanto o público
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como os intelectuais
te acharem incoerente.
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- É a marca de génio.
- Todos temos momentos de dúvida.
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Eu pinto uma tela por semana,
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depois olho-a com atenção
e rasgo-a com uma lâmina.
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No teu caso, fazes bem.
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Eu tenho sempre fé nas tuas peças.
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- Ela tem fé porque me ama.
- E por seres um génio.
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Há dez anos raptei-a a uma cómoda
e burguesa vida em Pittsburgh
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e desde então só a faço infeliz.
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Desde que seja bom, agarra-o.
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Nós, mulheres, fazemos a asneira
de nos apaixonar pelo artista...
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Ouvem-me? Apaixonamo-nos
pelo artista, não pelo homem.
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Onde está a asneira nisso?
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- É o artista que faz o homem.
- Não se pode separá-los.
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Imaginem que um prédio estava a arder
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e que só podiam ir lá
salvar uma coisa:
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ou a última edição
das peças de Shakespeare,
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ou um ser humano anónimo.
O que fariam?
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Não se podia privar o mundo das peças.