:24:00
podias empregá-la evitando
que outros garotos fossem presos.
:24:04
Amigas da mamã leram um artigo
que associava o teu nome ao Poncelet.
:24:09
O meu nome veio no jornal?
:24:10
Não tem nada a ver com isso.
Apenas tenho curiosidade.
:24:13
O que te levou a isso?
:24:17
Não sei, mãe.
:24:19
Sinto-me mais presa do que arrastada.
:24:23
O homem está em apuros
e, não sei porquê, só confia em mim.
:24:27
Eu sei que tens um grande coração,
mas ele não deve turvar-te a razão.
:24:32
Nem deixar-te a barriga vazia.
:24:36
Em criança, trazias sempre
animais abandonados para casa.
:24:38
Se os tivéssemos acolhido a todos,
:24:40
não teríamos tido dinheiro
para vos alimentar.
:24:44
És muito generosa.
:24:48
Custava-me muito ver
alguém aproveitar-se disso.
:24:53
Está bem, mãe.
:24:55
O meu pai levou-me
a um bar quando eu tinha 12 anos
:24:58
e disse-me
que escolhesse o meu uísque.
:25:00
Apontei para uma garrafa no bar,
e disse: Quero a do peru bonito.
:25:06
Os tipos do bar fartaram-se de rir.
:25:08
Nessa noite,
ficámos a cair de bêbedos.
:25:11
O meu pai era um bom homem.
Trabalhava na lavoura, no duro.
:25:15
É uma coisa que herdei dele:
mãos de trabalho.
:25:18
- Que idade tinha quando ele morreu?
- Catorze anos.
:25:23
- Por que é freira?
- Fui arrastada, acho eu.
:25:27
É difícil dizer. É o mesmo que
perguntar-lhe porque é um condenado.
:25:31
- Azar.
- Sorte, então.
:25:33
Tinha uma família que me amava,
muito apoio.
:25:35
Acho que me senti obrigada
a devolver parte disso.
:25:39
Não quer casar,
apaixonar-se, fazer sexo?
:25:47
Não quer falar sobre isso?
:25:50
Tenho amigos íntimos,
homens e mulheres.
:25:52
Nunca tive experiências sexuais,
mas há outras formas de intimidade.
:25:57
Partilhar sonhos,
pensamentos, sentimentos.