La Haine
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:51:02
Crêem em Deus? A pergunta
deve ser é ao contrário;

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será que crê Deus em nós?
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Tive um amigo que se chamava
Grunwalski.

:51:11
Fomos deportados juntos
para a Sibéria.

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E quando se vai para um campo
de trabalho lá,

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viaja-se em comboios para gado.
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São dias a atravessar-se
estepes geladas

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sem se ver viv'alma.
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Apertamo-nos para ter calor,
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mas para mijarmos, para cagar,
isso no vagão não é possível.

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E as únicas vezes que paramos
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é para meter água na locomotiva.
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Mas o Grunwalski
era envergonhado;

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ficava aflito até quando
tomávamos banho juntos.

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Gozava-o muito por isso.
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Portanto, o comboio pára,
todos saltamos para ir cagar,

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atrás dos vagões. Mas eu tinha
gozado tanto com o Grunwalski

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que ele preferiu afastar-se
um pouco.

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O comboio põe-se em marcha,
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todos saltamos lá para dentro
porque ele não espera por ninguém.

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O problema foi que o Grunwalski
tinha ido para trás duns arbustos

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e não tinha acabado de cagar.
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E vejo-o sair detrás dos arbustos
com as calças na mão,

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para não cair...
E tenta alcançar o comboio.

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Estendo-lhe a mão, mas sempre
que a tenta agarrar,

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larga as calças,
que lhe caem nos tornozelos.

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Pega nelas, desata outra vez
a correr,

:52:49
mas de cada vez que estende
a mão, as calças voltam a cair.

:52:56
E depois, que aconteceu?
- Nada, o Grunwalski...


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