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Eu escutei tudo.
Desculpa.
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Bem...
não faz mal.
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Então, achas que esta família
é estranha com as palavras?
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Tens um rapazinho que quer acreditar
muito no mundo à volta dele...
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E um irmão mais velho que
faria tudo por esse rapazinho...
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inclusive envergonhá-Io à frente
de uma rapariga...
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- Podia ter feito isso...
- Não.
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Mas a sério... vi umas coisas
esta noite, isto é...
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Não apenas os ruídos e os estalidos
habituais da casa.
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Não foi normal o que eu vi
esta noite.
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É um bocado difícil
de explicar.
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Aquele miúdo quer apenas
ser normal.
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Pensa lá... ele vê coisas
e todos lhe dizem que ele não é...
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Sempre que ele conta a alguém,
dizem que está errado
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e que ele não devia sentir
o que sente.
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Muito em breve,
ele não vai contar a ninguém,
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vai lidar com o assunto
à maneira dele.
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És a perita residente?
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Desculpa...
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Não.
É que tens razão...
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E eu não sei.
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Não sei por que...
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A culpa não é tua.
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Acredita em mim, é o bordado
no próprio tecido da sociedade.
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Pronto,
por exemplo...
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A Alice no País das Maravilhas,
o nosso folclore mais popular
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é baseado numa tripde ácido.
A peste bubónica, contos de fadas,
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crianças que comem bruxas
e macãs envenenadas...
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Isto é, até embalar um bebé
acaba com o bebé a cair no chão.
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Já para não falar da oração
que devemos dizer
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antes de nos deitarmos:
"Se morrer antes de acordar..."
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Não, isso não é nada
reconfortante.
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Tínhamos uma na nossa família
que resultava muito melhor:
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Era assim: "Querido Deus, por favor,
protege-nos dos monstros