:12:00
Vagueei, uns dias, por lá
e regressei a casa.
:12:03
Devia dois mil dólares ao meu pai,
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que me avisara sobre
as pequenas francesas.
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Que te disse ele sobre as francesas?
:12:09
Nada. Ele nunca conheceu uma francesa.
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Nunca saiu do Mississippi.
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Então porque não escreveste: "Seis
meses depois, a francesa não apareceu"?
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Escrevi. Escrevi.
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Fiz um fim mais auspicioso.
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Escrevi uma versão
onde tu aparecias.
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Que acontece?
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Fazemos amor, dez dias seguidos,
isso é uma parte...
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- A galdéria francesa...
- Exactamente.
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Depois ficam a conhecer-se melhor
:12:39
e vêem que não têm nada em comum.
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- Gosto. É mais real.
- O meu editor não pensou assim.
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Toda a gente quer acreditar no amor.
Vende, não é?
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Então a vida corre-te bem.
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- O teu livro é um best-seller nos E.U.
- Um best-seller insignificante.
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A maioria não leu Moby Dick,
porque haveriam de ler o meu livro?
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Eu não li Moby Dick
e gostei do teu livro.
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Mas penso que idealizaste
aquela noite.
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Oficialmente é ficcão.
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- É suposto eu...
- Eu sei,
:13:12
mas achei que houve alturas
que me fizeste...
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Quero dizer, ela. Não eu.
Tanto faz.
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...um pouco neurótica.
- Mas tu és...
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- Achas que sou neurótica?
- Não, estou a brincar.
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Onde é que eu fiz isso?
Não fiz.
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Talvez seja eu a ver isso.
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Ler uma coisa, sabendo que a
personagem da história é baseada em ti,
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é simultaneamente lisonjeiro
e perturbador.
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Perturbador como?
:13:38
Não sei. Ser parte da recordação
de outra pessoa,
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ver-me através dos teus olhos...
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Quanto tempo levaste a escrevê-lo?
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Três ou quatro anos,
com interrupções.
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É muito tempo para escrever
sobre uma noite.
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Eu sei. A quem o dizes.
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Eu assumi sempre que
me tinhas esquecido.
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Não. Tinha uma visão muito clara
de ti na minha memória.