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- ideias em que nunca tinha pensado...
- Ideias comunistas?
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Eu não sou comunista...
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Continua.
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Mando-te para um campo
de trabalhos forcados.
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Levei algum tempo a entender
porque me sentia tão diferente.
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Um dia, quando atravessava
o cemitério judeu,
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avaliei que passara as duas últimas
semanas afastada dos meus hábitos.
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A televisão era numa língua
que eu não entendia,
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não havia nada que comprar,
não havia reclames em lado nenhum,
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portanto, tudo que eu fizera fora
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passear, pensar e escrever.
O meu cérebro sentiu-se em repouso,
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livre do frenesi consumista.
Era quase como uma "pedra" natural.
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Sentia-me tão serena, sem ânsia de estar
noutro sítio,
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de fazer compras.
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Talvez ao princípio parecesse
enfadonho,
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mas tornou-se rapidamente muito,
muito tocante.
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Foi interessante.
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Acreditas que foi há nove anos
que passeávamos por Viena?
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- Nove anos? É impossível.
- A mim parece-me que foi há dois meses,
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mas foi no verão de 994.
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Eu estou diferente?
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Estou?
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Teria de te ver nua.
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- O quê?
- Desculpa.
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O teu cabelo era diferente.
:23:14
- Solta-o.
- Sim, usava-o solto.
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Então?
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Vá lá. Diz-me.
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Mais magra, creio.
Um pouco franzina.
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Então achaste-me gorda?
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Sim, achaste que eu era gorda!
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Escreveste um livro sobre
uma francesa gorda.
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A sério, estás linda.
:23:46
Eu estou diferente?
:23:48
Não, absolutamente nada.
Tu tens esse vinco...
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Eu sei.
Parece uma cicatriz.
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- Uma cicatriz? De um tiro?
- Gosto dela. Desculpa.
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Há dias, tive um sonho horrível.