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Eu estou diferente?
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Estou?
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Teria de te ver nua.
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- O quê?
- Desculpa.
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O teu cabelo era diferente.
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- Solta-o.
- Sim, usava-o solto.
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Então?
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Vá lá. Diz-me.
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Mais magra, creio.
Um pouco franzina.
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Então achaste-me gorda?
:23:34
Sim, achaste que eu era gorda!
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Escreveste um livro sobre
uma francesa gorda.
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A sério, estás linda.
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Eu estou diferente?
:23:48
Não, absolutamente nada.
Tu tens esse vinco...
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Eu sei.
Parece uma cicatriz.
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- Uma cicatriz? De um tiro?
- Gosto dela. Desculpa.
:23:59
Há dias, tive um sonho horrível.
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Tive o pesadelo pavoroso
que tinha 32 anos
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e depois acordei e tinha 23,
que alívio...
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Depois acordei a sério e tinha 32.
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- Medonho.
- Acontece.
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O tempo passa cada vez
mais depressa. Aparentemente,
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não renovamos as
nossas sinapses, depois dos 20,
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e as capacidades vão-se deteriorando.
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Eu gosto de envelhecer. Sente-se que
a vida,
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sei lá, é mais imediata, que posso
apreciar mais as coisas.
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Eu também. E adoro isso.
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Em tempos,
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toquei bateria numa banda.
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Éramos muito bons.
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Mas o vocalista estava obcecado
em conseguir um contrato de gravação.
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Só falávamos nisso.
Só pensávamos em espectáculos.
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Estava sempre tudo
concentrado no futuro. E, agora,
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a banda
já nem sequer existe.
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Recordar os espectáculos que fizemos,
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até os ensaios, era tão divertido...
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Agora seria capaz de apreciar cada
minuto. Posso dar uma fumaca?