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Então casaste porque os homens
que mais admiravas eram casados?
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Não. Eu tinha essa ideia de
ser uma pessoa mais respeitável.
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Queria tentar sê-lo,
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ainda que isso
pusesse em causa a minha honestidade.
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Compreendes o que estou a dizer?
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É curioso, na altura, recordo-me de
pensar que pouco importava
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com quem ia casar,
que ninguém vai ser tudo para ti
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e que, feitas as contas,
é a acção de te comprometeres,
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de assumires as tuas responsabilidades
que conta.
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O que é o amor senão respeito,
confiança, admiração,
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e eu sentia todas essas coisas.
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Agora, sinto que
dirijo um pequeno infantário
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com alguém com quem
costumava sair.
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Sou como um monge.
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Fiz amor menos de dez vezes,
nos últimos quatro anos.
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Ris-te de mim?
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Parece patético?
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Em que mosteiro o monge
faz amor dez vezes?
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Pronto, tenho mais sorte
que a maioria dos monges.
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Mas sinto que, se uma mulher me
tocasse,
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me decomporia em moléculas.
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Chegámos. Temos de ir.
Anda.
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Lamento saber
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que não és feliz
com o teu casamento.
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- Esta minha amiga é psiquiatra...
- Como é que ela está?
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Está um caos, mas...
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Ela tem trabalhado com casais
que se separam
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- pelo mesmo motivo.
- Que motivo é esse?
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Esses casais esperavam, depois de
viverem uns anos apaixonadamente,
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que aquele intenso desejo fosse o
mesmo do início. É impossível.
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Acabaríamos com aneurismas
nesse constante estado de excitacão.
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Acabaríamos por nada fazer
das nossas vidas.
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Terias acabado o teu livro
se estivesses sempre a fazer amor?
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Aceitava de bom grado o desafio.
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É natural para a tua mulher,
depois do nascimento do vosso filho.